A sombra
Há momentos, como esse, em que me vejo aprisionado numa névoa densa, que me carrega para o mundo do sono, um mundo sem movimentos, pesado, onde tudo tem a cor do chumbo.
Aqui sou tomado pelo desejo de encerrar esse ciclo na terra, uma sensação de medo e torpor vai tomando conta de mim, vai me assombrando.
Quero gritar, mas é tão difícil articular a voz, as pálpebras pesam e vou me afundando num redemoinho de conflitos entre o desejo de ir e a vontade de ficar.
Sinto-me impotente, não consigo levantar e fugir do monstro oculto por essa névoa sombria. Vai me levando sutilmente, cada vez mais fundo. Vou fugindo de médicos, abandonando exames, aumentando minhas dores, meus conflitos internos, fazendo do mundo um lugar cada vez mais hostil.
Essa criatura que me atormenta nas sombras, já me afastou dos amigos, criando sempre uma imensa letargia e cansaço ao pensar nos encontros, já me solapou um casamento, mas não conseguiu derrotar o amor, que mudou de forma e lhe escapou.
A fortuna veio em meu auxilio, me trazendo alguém que me ofereceu amor, carinho e cuidado, me deu mais uma filha e a oportunidade de um novo lar.
Mas o monstro spleen não me desabita, quer me convencer a empreender viagem no barco de Caronte.
Então, penso em todos que amo, meus pais, minha mulher, meus filhos, minhas irmãs e a irmã que o amor me deu. Meus netos, João e Kiko, preciosos tesouros de amor. A lembrança de João me abraçando e dizendo; “vovô, estava com saudade de você”. É a força que me resta, o que ainda me permite resistir à tentação de deixar-me levar.
Regi
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